Uma história de amor e flamenco

20/09/2008 | Uma história de amor e flamenco

Não foi apenas o flamenco, mas – principalmente – Curitiba que uniu um casal que se dedica à manifestação artística surgida na Andaluzia, região no sul da Espanha. Foi em 2001, na (extinta) Casa Teo, que os olhares do guitarrista Jony Gonçalves e os da bailaora Miriam Galeano se encontraram. Daquele momento até hoje, eles seguem juntos. Estiveram por dois anos no Japão; passaram cinco meses na Espanha; e, desde março do ano passado, vivem em Curitiba, de onde não pretendem mais sair. Considerados a revelação da cena flamenca brasileira contemporânea, Jony e Miriam também optaram pela capital paranaense por que desejam criar o filho Vinícius, de quatro meses, em uma cidade onde há o que ele chamam de “qualidade de vida”.
Curitiba foi o cenário do encontro dos dois, mas o que amalgamou, estreitou e estabeleceu laços entre eles foi, sem dúvida, o flamenco. Miriam nasceu em meio ao bailar. Ela é filha de Miriam Miers, a proprietária do Instituto de Dança Martha Luz, o principal de Assunção, no Paraguai. Na instituição, estudou – desde os 5 anos – balé clássico, danças espanhola e paraguaia, como se fosse a grade curricular de uma escola com Matemática, Ciências e História. Aos 15 anos, sentiu a fisgada do flamenco. E, aos 19 anos, deixou-se arrebatar por Jony Gonçalves.

O curitibano Jony Gonçalves brincava de tocar guitarra com talheres desde os 3 anos. Pouco depois, ganhou o primeiro violão e aprendeu sozinho os primeiros acordes. Estudou do popular ao clássico e, aos 15 anos, tocava em bandas de poprock,
além de acompanhar duplas sertanejas. Aos 17 anos, passou a ter aulas com o músico Luciano Romanelli que, causalmente, estudava flamenco. Jony foi fisgado. Da mesma maneira que, aos 19 anos, se deixaria arrebatar por Miriam Galeano.

Porque a vida se baila

Do flerte para o namoro foram alguns minutos e, rumo ao altar, menos de 365 dias. Estariam casados em 2002. Na ponte aérea CuritibaAssunção, pegaram gosto pelo hábito de viajar e rumaram ao país do Sol Nascente. Em Fukuoka, no Japão, Jony e Miriam colocaram em prática uma das máximas da arte: “Se dorme e acorda sonhando flamenco.”
Lecionavam de manhã e de tarde, faziam shows à noite. “O Japão ‘sustenta’ o flamenco. Lá, há mais academias e alunos do que na Espanha”, conta Jony, endossado por Miriam. “Os alunos japoneses são muito exigentes, querem aprender. E, de tanto lecionar, além de bailaora, me descobri e me tornei professora.”
Mas foi na Espanha que eles puderam compreender como se dá, de fato, a arte. Entre Jerez, Sevilha e Madri, o casal respirou, sentiu, aprendeu, vivenciou, enfim, o flamenco 24 horas todos os dias durante cinco meses. “Ou o flamenco te pega, ou não. O flamenco nos pegou”, diz Jony. “Se você chega a entender o flamenco, fica difícil largar”, completa Miriam. Eles afirmam que uma temporada na Espanha ensina mais flamenco do que o estudo sistemático – “e olhe que a técnica é fundamental”. “Nos apresentamos no tablado Las Carboneras, um dos mais importantes de Madri. Foi um aprendizado único”, revela Miriam.

Zarpar pro futuro

Atualmente, Jony e Miriam elaboram projetos que devem entrar em cena nos palcos curitibanos apenas ano que vem. Por hora, seguem lecionando no Instituto Flamenco Brasileiro de Arte e Cultura, no bairro São Lourenço. Esporadicamente, apresentamse e/ou acompanham bailaoras na capital, e no exterior. “Poderíamos estar na Espanha ou no Japão. Mas optamos por viver e difundir, ainda mais, o flamenco por aqui”, diz Miriam, em nome do casal, sobre as razões de viver na
capital paranaense. Sem pretensão. Mas com intensidade e verve. Olé.

Fonte: Gazeta do Povo - Caderno G