De Sur a Sur , um espetáculo de corpos e almas
Os bons espetáculos costumam ser uma união de vários elementos artísticos que dialogam, se enlaçam e se fundem transformando contribuições e talentos de diversas áreas em um entretenimento que a princípio vemos como uno, pois apesar de repararmos nesses diferentes elementos, acabamos absortos pela beleza da união de tudo.
Esse é o caso da apresentação do grupo Perla Flamenca, que nos presenteou com De Sur a Sur – “O Espetáculo”, realizado no último dia 12 de Novembro no simpático Teatro Regina Vogue. Note-se que as aspas de “O Espetáculo” é parte integrante do título completo, de modo a realçar o caráter de espetáculo.
Pela beleza, alma e empenho empregados em De Sur a Sur (da concepção aos ensaios e ensaios e ensaios), realmente a palavra “espetáculo” merece as aspas e o “e” maiúsculo. No palco, bailaoras, bailaores, cantaores e músicos se entregaram totalmente para o público que assistia encantado cada coreografia que se desenrolava sob uma belíssima iluminação que ganhava diferentes nuances de acordo com cada clima de música e baile. Logo no início do espetáculo, a iluminação deu um ar de magia ao incrível cenário pintado pela artista Gabriela Jardi Krizmancic, que mesclou elementos da arquitetura de Andaluzia com seus arcos de influência moura e uma espécie de alameda com laranjeiras de um lado e araucárias de outro, significando a ponte entre o sul da Espanha e o sul do Brasil. As 3 enormes telas da cenografia davam a impressão de estarem em um mesmo plano, mas em belo truque de ilusão, a central era recuada, permitindo que os bailaoras e bailaores entrassem pelos dois lados.
Foram 10 bailes, do solo de abertura com Miri Galeano ao apogeu com todas as bailaoras e bailaores no palco, bailando e cantando, sintetizando toda a mescla de influências que cada um dos países, Espanha e Brasil, levam e trazem e incorporam fazendo um flamenco que é vivo e felizmente mutável, mas sempre com respeito e lembranças de suas raízes.
O número de bailes e a duração foram perfeitas para que todos tivessem seus momentos e as diferentes configurações de bailaoras(es) pudessem desenvolver suas coreografias ao som do mais do que competente grupo de músicos liderados pelo guitarrista Jony Gonçalves, cada dia mais refinado. No canto, as vozes poderosas de Francisco Delgado e Fernando de Marilia se entrosaram perfeitamente. A percussão de Gustavo Rosa, usando um tambor djembe, além do cajon, deu mais peso para vários momentos, tornando mais encorpada a música, que ganhou ainda mais cor com o violino de Carla Zago.
Como se sabe, De Sur a Sur foi realizado pelos alunos da Perla Flamenca, a escola dirigida por Miri Galeano e que também tem como professora, Maria Tereza Prado. Além de Miri e Maria Tereza, foram 23 alunos de diferentes níveis que participaram do espetáculo, mas devido ao grande empenho de cada um deles e a unidade em que se transformou a arte de todos, não era possível reparar se um tinha mais ou menos técnica do que outro ou se faltava algum entrosamento, pois todos estavam de corpo e alma, realmente se sentindo felizes e grandes artistas em um palco com tudo perfeito para que eles brilhassem: luz, música, som, cenografia, espaço e estrutura do teatro, e ainda, o lindo, variado e alegre figurino da Lunares Flamenco. E claro, um público incrível, que se envolveu e se entusiasmou a altura do que lhe foi entregue, um belíssimo espetáculo, que suplantou o do ano passado e que já lançou um desafio, fazer um tão lindo ou mais no ano que vem.
Horácio Tomizawa De Bonis – Não é crítico,não é jornalista,mas gosta de música, dança,artes e F1. É proprietário da Sonic Discos – Especiarias Sonoras.
